domingo, setembro 30, 2018

Apenas continue - À Pediatria (o que é para mim)



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Hoje eu realmente posso dizer que saíram lágrimas dos meus olhos. Não era um momento triste nem nada, era uma situação de sair de um lugar de pertencimento. Voltando pra casa e ouvindo Flames eu chorei. Sim, a sensação que eu tive em estar lá e conhecer esses pacientes me fez ser alguém melhor.
As crianças são maravilhosas e te mostram que mesmo em momentos de muita tristeza e situações difíceis de doença elas conseguem se superar de uma forma inimaginável.

Meus pacientes e mais que isso meus amigos, que alegravam meu dia. Ana Luísa com seu sorriso imbatível todas as manhãs, Maria Luiza com seus abraços inesperados, Benjamin com sua lição de superação, Davi (como o próprio nome já diz) um guerreiro lutando contra um gigante, Davi que lutou pela vida até quando pode, mas descansou quando foi preciso, Miguel sempre me enganando para que eu ficasse mais perto dele por mais tempo, Israel (eu tinha a certeza que morderia suas bochechas todos os dias quando o examinei no alojamento conjunto, mas felizmente, isso não aconteceu). Aprendi que as crianças podem andar, mesmo que seus ossos não sejam bem formados, que podem falar mesmo que tenham paralisia cerebral, que um olhar diz tudo, que não deixam você examina-las apenas porque não querem, mas sim porque estão incomodadas, com dor ou se sentindo fora da sua rotina e do seu ambiente. Eu enfrentei situações difíceis, eu deixei de dormir em muitos plantões, eu conheci muitas crianças e muitos pais. Cada um com uma reação diferente quando o entendimento e enfrentamento da doença dos seus filhos. 

Eu conversei e acalentei, quando tudo estava tenebroso para as crianças eu tentei ser uma luz. Eu tentei convencer a deixar examinar, a tomar o remédio, a deixar examinar suas feridas, muitas vezes, não consegui, nem por isso sou fracassada. O sucesso está nas pequenas atitudes que ninguém vê, nos pequenos sorrisos, nas palavras e olhares de agradecimento.
Eu me sinto viva e muito feliz! Eu me sinto completa e explendida.

A todos eles, pacientes e acompanhantes, o meu agradecimento por ter feito os meus dias mais felizes. Obrigada Keven, Davi, Benjamin, Augusto, Ana Luísa, Richard, Maria Luiza, Miguel, Maria Flor, Valentina, Vinícius, Samuel, Walison, João, Israel, Hemily, Bernardo, Moana, Kaio, Ana Clara, Guilherme,Matheus, Brayan,Adriel, Kayke, Helena, Ana Beatriz, Clarice, César, Emilly, Heitor, João Miguel, Yasmin, José Gabriel, Sofia e tantos outros que estão sempre no meu coração, mas não citei neste pequeno texto.
Como eu amei todos esses dias, como eu cantei, brinquei, renovei minhas forças e esperanças no amanhã. Hoje digo até mais, não adeus a essa área que tanto aquece o meu coração e excita minha alma!

Passei tantos momentos difíceis de enfrentamento com realidades difíceis, vulnerabilidade, tristezas, alegrias, dores, gravidade, como cresci com vocês, crianças, tão pequeninas e com tanto a nos ensinar. Como eu aprendi com todos os anjinhos que voltaram para o céu ao longo desse tempo. Como eu aprendi a ter empatia com as mães rotuladas de "chatas" por todos da equipe que na verdade necessitavam desesperadamente por alguém com paciência para explicar, ouvir e estabelecer conexões.

Eu me doei e por isso estou feliz, eu fiz tudo o que pude e dei o meu sangue pelos pacientes, eu me sinto feliz e completa por concluir mais esta etapa. A Pediatria é uma área maravilhosa (espero voltar em breve) e me fez crescer muito. Foi preciso presenciar o nascimento, o fim da vida e as complicações subjacentes aos processos de adoecimento. Foi preciso me questionar inúmeras vezes e perguntar porque certas coisas acontecem com crianças, tão jovens, tão fragilizadas, com tantas vulnerabilidades sociais. Foi preciso viver o sofrimento delas e torcer para eu sobreviver. Foi preciso viver a impotência de chegar a uma linha tênue entre o que pode ou não ser feito. Foi preciso saber os limites da Medicina. Foi preciso lidar com os imprevistos. Foi preciso superar as intercorrências impensáveis. Foi preciso aprender a acompanhar os pacientes a longo prazo, a vê-los em suas diversas formas todos os dias. Foi preciso tirar um tempo da rotina corrida para dar atenção a alguns pacientes e abordar questões que não tinham nada a ver com a Medicina. Foi preciso sorrir ao ver um bingo realizado por palhaços na enfermaria, que arrancou sorrisos e crianças que não saiam mais do quarto pra nada.

Vou sentir falta de toda as manhãs com esse carinho, de todos esses pacientes em sua totalidade, mas por agora é preciso aceitar a conclusão de uma etapa e sentir-se aberta as novas oportunidades. E não importa o que aconteça, apenas continue se movendo. Vou-me, com saudosismo ! Digo que quero voltar “Keep moving... You gotta get through today. There my love, keep on running.Gotta keep those tears at bay Don't stop, tomorrow's another day Don't stop, tomorrow you'll feel no pain. Just keep moving. Don't stop, the past'll trip you up. Don't stop, right now gotta be enough” (Flames – Sia e David Guetta)”

Janaina C. Silva


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