quinta-feira, junho 21, 2018

Um anjinho no céu



Um anjinho nasceu em meio a um ambiente com inúmeras vulnerabilidades e como consequência tinha complicações congênitas e doenças diversas causadas por má formação de muitos sistemas de seu pequeno corpinho. Conheci o anjinho em um trabalho extracurricular da faculdade, a mãe, sempre muito entusiasmada, dizia que ele era um guerreiro e que conseguiria se recuperar daquilo que chamava de “pequenos probleminhas”, pois havia nascido e ficado na UTI neonatal por um período e ele havia conseguido sair, então outras questões seriam resolvidas. Aos quatro meses de vida ele não conseguiu se recuperar de uma complicação e acabou falecendo, o que foi difícil para a equipe e para a família, a mãe teve muita dificuldade em aceitar a perda de alguém tão especial para ela.

Senti uma profunda tristeza ao descobrir o que tinha acontecido alguns meses depois. Não sei ao certo o que acontece para que alguns anjinhos voltem para o céu tão rapidamente, mas eu resolvi nesse texto, homenagear alguém especial que, com certeza, cumpriu sua missão na terra. Esta homenagem é uma reflexão para que ele nunca seja esquecido e para que lembremos de fazer mais de nós por todos os outros na mesma situação e que consigamos sempre não nos conformarmos com essas situações, mas acalmar os nossos corações quanto a nossa impotência quanto médicos e estudantes de Medicina.
Por inúmeros motivos que ainda não entendemos lidamos com perdas de crianças muito precocemente, seja por complicações de agravos de saúde, seja por má formações, prognósticos ruins, canceres ou doenças terminais-degenerativas. Acaba alguns desses momentos com um silencio entre os profissionais de saúde, um sentimento de impotência por ter tentado todos os recursos e não ter obtido sucesso.
Escrevi esse texto apenas para uma simples reflexão: a terminalidade da vida e o processo de morte natural que ainda não aceitamos e compreendemos bem. Tanto como pessoas da área médica ou externas, ainda sofremos e nos comovemos por acreditar que somos imortais e que a Medicina obrigatoriamente deve ter a resolução de todos os nossos problemas. Ela deve curar a sua ansiedade por meio de remédios ansiolíticos, tornar pessoas mais jovens, por meio de procedimentos de rejuvenescimento, exterminar do seu corpo um câncer, por meio de uma quimioterapia que deve sempre ser milagrosa, melhorar sua enxaqueca tensional, mesmo que o remédio traga mais efeitos colaterais que benéficos, resolver milagrosamente com medicamentos ou procedimentos o seu ganho de peso exagerado.
Os avanços da medicina são capazes de melhorar muito a vida dos doentes e curar inúmeras doenças, mas, é inevitável dizer, que a Medicina é uma ciência praticada por humanos, e como um reflexo disso apresenta falhas, erros e impotências. Com isso, mesmo que os médicos, muitas vezes, sejam treinados para serem máquinas de diagnósticos, tratamentos e encaminhamentos perdas acontecem. Então como lidar com elas?
A Medicina não terá sempre todas as respostas que você precisa e é necessário saber que ela pode dar mais decepções que alegrias, mas você não pode deixar de acreditar nela por isso. As perdas são inerentes do processo e do caminho, mas não deixe que anjinhos e pessoas, suas histórias e suas vivencias sejam esquecidas. Isso faz com que você se torne alguém melhor, que você altere os caminhos e se empenhe mais para orientar e modificar fatores complicadores da doença. Se empenhe, não desanime, por mais que as perdas sejam irreparáveis você pode sempre aprender e ser melhor para agir de forma diferente das outras vezes.
Não importa o que tenha acontecido, anjinho é um guerreiro, lutou pela vida até onde pode e permaneceu firme em meio as adversidades de inúmeras comorbidades, sempre será lembrado por mim. Eu definitivamente estou em busca de respostas, mas ainda não encontrei. Talvez lidar melhor seria acreditar que tudo existe por um propósito maior e que não somos nós que vamos definir a hora que cada um terá o fim de sua vida. Lute, mas não desista, no caminho poderão existir anjinhos que voltam para o céu, mas que eles permaneçam sempre em nossa mente e coração, nos motivando a sermos melhores, termos melhores condutas e respeitarmos o fluxo natural da vida.


Janaina Silva

Nenhum comentário:

Postar um comentário