Certa
vez disseram que se eu fechasse os olhos seria tomada por uma intensa escuridão
que me tomaria de incertezas e me segundos de aflição. Além disso, afirmavam
que aqueles instantes poderiam se tornar um dos piores da minha vida e que
aquele momento poderia ser lembrado com pesadelos, insônias e uma série de
paranoias da psique.
Mesmo
sabendo disso, em um momento de profundo desânimo e decepção com uma série de
fatores que haviam acontecido comigo eu resolvi fazer o que várias pessoas
haviam me contraindicado. Será que elas estariam certas, já passaram por isso e
realmente viram o quanto é ruim? Vai que na verdade, elas estão falando sobre
um assunto que sequer têm experiência, que conhecem ou que têm propriedade para
argumentar. E se elas na verdade ouviram boatos, histórias e reproduziram sem
sequer saber a verdade isso?
De
repente, em meio a um emaranhado de dúvidas e pensamentos, naquele momento em
que eu fechei os olhos, ao invés de perceber a escuridão consegui viajar pelo
tempo. Não era sequer uma simples viagem e eu não tinha certeza se era
realmente no tempo, mas que deixe assim para que não seja uma fuga tão longe da realidade.
Com
isso, uma sensação maravilhosa de frio que percorria desde a primeira até a
última vértebra, dando uma sensação de vazio na barriga, algo que não consigo
explicar ou traduzir em palavras. Eu comecei a perceber que tinha os meus
sentidos mais aguçados e a ouvir uma trilha sonora até então desconhecida por
mim, mas era, de forma singular, uma canção que eu comecei a cantar e a minha
voz, que antes espantava a todos pela sua falta de qualidade vocal,
transformou-se maravilhosamente em uma doce interpretação daquele som.
Eu sequer imaginei que estava sendo levada aquele lugar,
pois lá poderia ser como aquele narrador que tudo vê e sabe exatamente o que se
passou. Que linda a sensação de saber que poderia ter resolvido aquele dilema
que a tanto perturbava o meu interior e ter a certeza de que eu saberia de
forma clara, mesmo que fosse apenas no meu inconsciente, o que teria
acontecido, o porquê de tudo ter chegado naquele ponto.
A partir disso, encantei-me ao encontrar
pequenas criaturas que poderiam falar, mas eu estaria em um estado de êxtase,
mal podia acreditar que elas proferiram a mim um “oi, estávamos esperando por
você”. Elas tinham formas diversas e acabaram por dizer a mim o quão estavam
felizes por eu ter arriscado aquela viagem, ao qual poucos já tiveram a audácia
de inicia-la. Rapidamente, me vi cercada por vários e pequeninos animais que
gritavam expressões alegres, não notada por meu idioma original, porém
entendida por mim e decifrada na minha mente. Os animaizinhos fizeram uma festa
e lá havia muitos vegetais e saladas para nos alimentarmos, bem como música e
dança para que a alegria estivesse completa.
Tudo
estava um pouco confuso, como se dois mais dois não fossem mais quatro ou como
se a Engenharia não estudasse mais cálculos e a Medicina não estudasse mais o
corpo humano. Eu não conseguia entender o motivo pelo qual várias pessoas me
desacreditaram em tentar ir para aquele lugar. De repente, um emaranhado de
ideias, pensamentos e hipóteses passavam por a minha mente, que tinha certeza
que o meu palpite inicial estava certo. De certa forma sim, entretanto,
posteriormente, a indecisão pairou no ar, revolta por um simples diálogo e
algumas palavras duras e sem tom de reconforto, que fizeram parte daquele
momento sobre os meus pensamentos.
Ela
estava um pouco eufórica com tudo aquilo que tinha acontecido, compartilhando
daquela sensação de, bem, não saber para que rumo ir. Naquele instante um
pensamento voou por entre a sua mente e ela disse para si mesma “foi bem melhor
assim”, essas são as memórias que você levará consigo a vida toda e, embora as
pessoas dissessem que aquilo poderia ser ruim e que causaria posteriores
transtornos no equilíbrio da mente e corpo, aqueles momentos foram um dos
melhores já vividos por mim em toda a minha existência,
Naquele
instante, parece que o ar que eu respirava tornou-se menos rarefeito que nos
minutos anteriores ou talvez poderia ser pelo simples fato de que estava
respirando de forma mais tranquila. Já se fora a indecisão, já se dissera tudo
o que tinha de ser dito e agora só restava a felicidade, o desapego, o amor
próprio, compaixão e reflexão.
Eu
sabia que ser franca era necessário, porém eu não consegui ser amável, mas eu
sentia que não precisava disso e se quisesse realmente que essa situação se
findasse deveria ser rude e mostrar talvez um dos meus piores lados. Sabe o que
é na verdade: é complicado lidar com pessoas que de fato não são assertivas em
suas sentenças ou ambíguas em suas ações e para isso sempre tem que ter um
ponto final. Eu tinha a sensação que após o meu insight eu deveria e poderia mudar a
minha vida, me libertar das falsas sensações e, despretensiosamente, dividir o
meu tempo com quem de fato merecia esse lugar.
Ademais,
lembrei-me das mágicas criaturas que me receberam contentes e dos animais que
estavam estupendos por conta da liberdade e vida que eles tinham. Eu não teria
coragem de machucá-los ou sequer de me alimentar daquelas mágicas criaturas que
tanto viviam, brincavam e tinham uma grande conexão comigo e com o universo.
Por isso, jamais me esqueceria do quanto fui bem recebida no território deles e
a intensidade e hospitalidade com o qual me receberam.
Acabei
por saber que de fato, as pessoas são sempre muito maravilhosas e belas no
nosso imaginário e talvez por isso eu as goste de admirar sem conhece-las. Ao
fazer isso, sei muito bem que posso tirar delas o melhor que elas têm, ou seja,
aquilo que a minha mente colore, imagina e transforma. Por mais de uma vez,
meus amigos pequeninos disseram que é bem melhor pensar e idealizar as pessoas
e, talvez por isso, a felicidade venha em grande intensidade, já que essa
figuração teria o poder de dar boas e brilhantes características que
inevitavelmente seriam destruídas ao conhecer de fato este alguém. O utópico
encanta, te leva a um estado ainda não conhecido, inatingível e, quem sabe, a
uma vibe que vibra e mora dentro de você.
Janaina Silva
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