sexta-feira, março 10, 2017

Ser diferente, agir localmente e viver alegremente


A vontade de fazer a diferença e alcançar os invisíveis, marginalizados, oprimidos. Fazer a diferença onde quer que eu vá. Isso é o que me motiva, me sustenta nos propósitos por mais difícil que seja.

Desde muito pequena eu já olhava para as pessoas com um olhar de compaixão, principalmente aquelas em situação de vulnerabilidades - por exemplo as que estão em situação de rua e crianças abandonadas. Na minha infância, uma das brincadeiras favoritas era brincar de ser a dona de um orfanato, talvez seja uma vontade interior de ajudar e fazer justiça aos abandonados e oprimidos. Eu me lembro de colocar várias cadeiras enfileiradas, com um pano por cima, quase sempre um lençol ou cobertor. Sobre o acento delas estavam os ursinhos, que eram no meu imaginário, abandonados e eu cuidava deles. Eu os alimentava, os ensinava a ler e a escrever, além de deixa-lo brincar, eu dava amor e carinho e eles ficavam felizes. Eu deveria ter por volta de 5-6 anos de idade, mas o senso de justiça já imperava meu coração. 
E com 7 anos eu pedi uma boneca bebê gessinho para os meus pais, eu queria ser médica para cuidar dos ursinhos, das minhas bonecas, dos meus amigos e dos meus pais quando estivessem doentes. Eu ficava vidrada no momento em que ia a pediatra e olhava tudo o que a médica fazia para que eu pudesse chegar em casa, abrir minha maleta médica que veio acompanhada da boneca e reproduzir os passos do exame físico.
Eu queria ajudar. Eu queria me sentir útil, mesmo que fosse na brincadeira. E assim eu fui crescendo e assistindo os jornais, lendo revistas e mantendo-me inconformada com esse mundo.

Já na minha juventude, pensei em seguir outras áreas, mas sempre buscava uma área em que eu conseguiria alcançar o outro de uma forma tão profunda que pudesse impactar a vida de alguém. Tornou-se difícil a escolha, pois acho que cada profissão tem em si um brilho mágico que encanta e facina, sendo útil para as pessoas, transformando a vida das pessoas, por mais que, muitas vezes, a sociedade tenha uma visão desvalorizada dela. 
Lembro-me que o meu irmão, com 4 anos de idade disse para mim, com toda ternura e inocência de uma criança "quando eu crescer eu quero pendurar no caminhão de lixo". Para ele era mágico alguém que sobe e corre no caminhão e joga coisas habilidosamente dentro dele. A profissão de lixeiro é extremamente importante e nobre na sociedade, são eles que mantém o meio ambiente agradável, trabalhando sob sol e chuva, lidando com aquilo que muitas vezes temos raiva de levar para a lixeira. É uma profissão ambientalista, que ajuda as pessoas a não jogarem sujeira em locais indevidos, que podem poluir os lençóis freáticos e a água que você bebe. Esses profissionais têm a minha admiração e deveriam receber bem mais proporcional a sua importância e impacto social. 

Voltando para a escolha do curso que faço na faculdade, um dos pontos que me fez escolher a Medicina é a empatia, a vontade de fazer a diferença, sentir aquilo que os pacientes sentem, ver, olhar, entender o que eles. Aliado a isso, se mantinha a minha vontade de fazer a diferença na profissão em meio a tantas consultas em que fui mal tratada por plantonistas, que tive as minhas vontades ignoradas e que me senti como se o médico que me atendesse estivesse fazendo um favor para mim. Além disso, a máquina do corpo humano, maravilhosa e perfeita em sua plenitude, construída e organizada por sistemas harmoniosos, em que cada minúscula célula tem a sua importância.
Eu não quero ser apenas uma médica, eu quero ser A médica. Não digo de reconhecimento, mas de conseguir levar mais amor, mais compaixão, respeito, empatia, compreensão aos seus pacientes. Eu quero viver as histórias, sentir e me empenhar para ajudar as pessoas a mudarem a sua realidade. A ouvir e aconselhar sem ser invasiva, a olhar e me expressar com o tom de entendimento e compaixão, a dar aqueles um pouco da minha essência e da minha vontade de mudar o mundo! 

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